Pavilhão da Agrofloresta

  • Tipologia de Projeto: Institucional
  • Autor do projeto: Felipe SS Rodrigues Arquitetura
  • Arquiteto Responsável: Felipe SS Rodrigues
  • Arquiteta Colaboradora: Juliana Gilardino
  • Equipe Técnica: Gabriel Diniz
  • Engenharia: MP Cardoso & Cardoso
  • Cálculo Estrutural: Cassettari Engenharia, Executa Office, José Carlos Cassettari
  • Ano da elaboração: 2022
  • Localização: Porto Feliz, SP – Brasil
  • Área construída: 458,00m²
  • Fotografo: Fran Parente

O agro é popular. A agrofloresta é um sistema de produção de alimentos conciliado com a recuperação do solo que se inspira nos ecossistemas naturais. A agrofloresta curiosamente possui uma estética que causa estranheza à primeira vista por conta da diversidade e irregularidade. É preciso também remover as monoculturas da retina para entender que a cumplicidade das espécies na natureza apresenta uma experiência rica e absolutamente contemporânea. 

Diversidade. A mesma tolerância exercitada e enfatizada no convívio social na atualidade tem espelhamento em outros âmbitos da cultura, como este, da produção de alimentos. A agrofloresta é assimétrica, sinuosa e inconstante ao mesmo tempo que é harmônica, resiliente e íntegra.

Régua topográfica. O traçado para a ocupação do terreno com pouco mais de 2 hectares partiu da consolidação do programa de necessidades: o pavilhão da agrofloresta, uma casa para a agrofloresta, uma cozinha para manipulação de alimentos, banheiros para visitantes e uma casa principal. Nesta primeira fase, a construção compreende um anteparo de 100m que guia todo o projeto e separa a circulação de automóveis das atmosferas protagonistas da proposta, mas não apenas isso; a régua branca que se inicia com 4m de altura e termina com 50cm é reveladora literal da topografia.

Modulação Assimétrica. A criação deste pavilhão – que prevê realizar eventos relacionados ao tema da agrofloresta e receber interessados – partiu de um campo livre de oportunidades. Na indução de uma narrativa própria, a estrutura parte de um cubo perfeito de 4mx4mx4m; sendo 4m o pé direito ideal para um estar coletivo, 4m também enquanto comprimento de vão ideal para que o cálculo da seção da viga seja similar ao dos pilares, e por último, para um parcelamento harmônico dos panos de vidro.  Dada a previsibilidade inerente a conjuntura da modulação, houve o esforço de retirar a edificação desta condição de didatismo datado dos tempos modernos ortodoxos. Para isso usou-se as especificidades do programa para criar condições especiais em cada uma de suas quatro elevações e, portanto, na relação com o terreno.  O desfecho mistura a banalidade da repetição com a potência da escala (um truque de percepção da escala, como acontece na Farnsworth House), além de uma transmutação quase literal, muito rara, do esquema para a realidade.

Isto não é mais uma sala de estar. Existe um desempenho social que também merece ser mencionado – a relação da obra com o contexto cultural e arquitetônico. Para além dos aspectos materiais e conceituais – hoje enquadrados em qualquer nicho fetichista que se possa imaginar – o projeto reflete um ponto de vista na contramão da produção arquitetônica recente, indeterminado pelos arquitetos autores e guiado exclusivamente por aqueles que comissionam Arquitetura; a prioridade do coletivo.

Junkspace à moda da casa. A arquitetura contemporânea brasileira e bem-sucedida está intimamente ligada a produção de salas de estar; casas. As casas representam a concentração da individualidade e controle absoluto de contexto – desejo muito justo, dada a dificuldade de coletivizar o conceito de beleza. Entretanto, nos últimos tempos, no Brasil, as casas têm adquirido tamanho museológico, com seus componentes alongados e esticados, cabeceiras alongadas, corredores-galeria, vazios centrais gigantes, e programas inflados. No projeto global da agrofloresta, o Pavilhão – que embora não seja público, mas de serventia e interesse público – foi construído antes da futura casa unifamiliar; se haveria qualquer desejo de grandiosidade e opulência, foram devidamente concentrados em propósito. A 20 minutos dali a Fazenda Boa Vista, concentra closetsmaiores que o Instituto Moreira Sales em Poços de Caldas ou o Instituto Ling em Porto Alegre; estes espaços, verdadeiras casas de arquitetura impecável abertas ao público por famílias que seriam entendidas como elite nos ambientes mais exigentes do globo.

Shake de Alienação. De uma certa maneira todas as escolas arquitetônicas já foram criadas. Existe uma sensação comum hoje de que os arquitetos seguem vertentes delas – uma mistura de alienação, reverência e a consciência da impossibilidade de nada realmente novo no front. Existe também uma noção concreta e coletiva do que se espera que seja feito e consequentemente, seja bem recebido; o que no passado destacava-se por oposição hoje se realiza pela congruência e semelhança. Talvez a última maneira de entregar algo criativo – para quem persegue a criatividade atemporal – seja misturar conscientemente, duas ou três alienações num copo de liquidificador. 

Ingredientes. 100g de Mies van der Rohe, 400g de Donald Judd, 300g de John Pawson, 1kg de Aurelio Martinez Flores, uma xícara de SANAA, uma pitada de Oscar Niemeyer, um litro de Luis Barragán, e 5g de especiarias paulistas.

Otimismo. O conjunto da agrofloresta foi batizado de Agrofelicidade.

Texto disponibilizado pela Felipe SS Rodrigues Arquitetura

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