O New Museum é o produto de uma visão ousada para estabelecer um centro radical e politizado de arte contemporânea na cidade de Nova York. Com o objetivo de distinguir-se das instituições de arte existentes na cidade com um foco em artistas emergentes, o nome do museu incorpora seu espírito pioneiro. Nas duas décadas seguintes à sua fundação, em 1977, ganhou uma forte reputação de seu programa artístico, e eventualmente cresceu mais que sua discreta sede em um loft no SoHo. Para estabelecer uma presença visual e atingir um público mais amplo, em 2003, o escritório japonês de arquitetura foi contratado para projetar uma nova sede para o museu. A estrutura resultante, uma pilha de caixas retilíneas que se erguem sobre Bowery, seria o primeiro e, até agora, o único museu de arte contemporânea construído propositadamente em Nova York. Confira mais sobre o New Museum.
Com sede em Tóquio, o SANAA (Sejima, Nishizawa e Associates) foi estabelecido por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa em 1995. Estes dois arquitetos trabalharam de forma colaborativa nos projetos do SANAA, enquanto simultaneamente executavam suas próprias práticas individuais bem estabelecidas, todos alojados no mesmo edifício. Os membros da equipe sobrepõem-se através das empresas, compartilhando espaços comuns no escritório, de planta aberta; um ambiente de trabalho sem fronteiras, que atua como uma metáfora ao seu estilo arquitetônico caracteristicamente transparente. Este estilo é, em parte, uma reação contra as construções opacas encontrados nas ruas de Tóquio, e levou a comparações com as estruturas de Mies van der Rohe.
No momento que escolhidos para projetar o New Museum, o escritório estava com outros dois projetos de galerias em andamento: o Museu do Século 21 de Arte Contemporânea de Kanazawa, Japão, e o Pavilhão de Vidro do Museu de Arte de Toledo, em Toledo, Ohio. O Museu em Ohio foi o primeiro projeto do escritório nos Estados Unidos, e sua relativa obscuridade internacional estava em consonância com a missão do New Museum em promover artistas desconhecidos. Tendo recebido elogios da crítica global para estes projetos e para trabalhos posteriores, o SANAA recebeu o Prêmio Pritzker em 2010.
Imagem: Laurian Ghinitoiu / Archdaily
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O projeto para o New Museum compreende sete caixas de proporções variadas, empilhadas verticalmente em torno de um núcleo central. Os arquitetos evitaram utilizar a metragem quadrada máxima permitida pelo zoneamento vigente, proporcionando espaço para decentralizar esses volumes e criar uma interação dinâmica entre os volumes. A planta original do edifício foi concebida para criar uma identidade arquitetônica distinta que refletisse a filosofia experimental dos clientes. Os elementos programáticos do museu estão dispostos através dos dez pavimentos; alojados nos interiores das caixas estão galerias, escritórios, espaços para eventos, um café, um teatro, um centro de educação, e dois pisos mecânicos. Esta reciprocidade é evidente no New Museum, onde um espaço não utilizado no shaft entre o terceiro e o quarto pavimento foi convertido em uma micro-galeria que mede apenas 1,52 por 2,43, mas com um pé direito de mais de 10 metros.
Imagem: Laurian Ghinitoiu / Archdaily
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Um dos principais objetivos do SANAA para o projeto era criar um museu acessível e convidativo. A fim de conseguir isso, eles instalaram uma parede de vidro ao nível da rua para incutir fisicamente um sentido de abertura e transparência. A fronteira entre a rua e o museu é dissolvida por esta membrana, encorajando os transeuntes a entrarem. A continuação da calçada de concreto para o piso de concreto do museu acrescenta ainda mais para esse efeito. Os painéis de vidro da parede são afundados no chão e se estendem até o teto, mascarando assim os seus caixilhos e evitando qualquer sentimento de divisão que possa ser criado por essas fronteiras.
O interior também conta com paredes de vidro, como a que separa a galeria na parte de trás do primeiro andar do saguão e do café na frente. Assim, o alcance do museu se estende para além do edifício, com a arte em exposição visível até mesmo para aqueles na rua.
Imagem: Laurian Ghinitoiu / Archdaily
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A utilização de paredes de vidro foi facilitada pela estrutura do edifício, que se baseia em armações de aço para suportar a carga das caixas. As treliças também permitem que as galerias não tenham colunas, proporcionando um espaço de exposição desobstruída e altamente adaptável. Em certos lugares, as treliças são expostas e tornam-se elementos decorativos, com diagonais que atravessam as janelas. Em outros lugares, as treliças são cuidadosamente posicionadas para evitar obscurecer as claraboias.
Uma vez que as paredes da galeria não são auto portantes, os arquitetos puderam criar um recuo entre as paredes e o piso que evita a junção normalmente imperfeita dos dois. Este detalhe arquitetônico já havia sido empregado pelo SANAA em sua galeria em Kanazawa. No New Museum, estas paredes flutuantes ecoam a ausência de peso sugerido pela estrutura global, que aparentemente levita sobre a sua fachada de vidro.
Imagem: Laurian Ghinitoiu / Archdaily
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Maximizar espaços de exposição foi uma consideração chave no novo projeto, sobretudo levando em conta os limites apertados da sede anterior do New Museum. Os espaços de circulação foram reduzidos para aumentar o tamanho das galerias; a escadaria, que circula entre os terceiro e quarto andares tem apenas um metro de largura, o mínimo permitido pela regulamentação da construção da cidade. Aqui, a largura estreita da escada e a altura extrema do teto são combinadas para criar uma experiência espacial dramática.
As galerias são quase desprovidas de janelas; os espaços de parede foram priorizados sobre as aberturas. As caixas deslocadas foram a solução encontrada para permitir a incidência de luz natural nas galerias através das claraboias nas saliências resultantes. À noite, a luz artificial produzida no interior das galerias extravasa através das claraboias, difundida pelos revestimentos e iluminando suavemente o edifício. A estrutura do teto das galerias foi deixada exposta para permitir que a arte fosse pendurada, mais uma vez proporcionando espaços de exposição maiores e mais flexíveis.
Imagem: Laurian Ghinitoiu / Archdaily
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Os projetos de SANAA consistentemente se esforçam em promover uma relação entre o edifício e seu entorno, e o New Museum não é exceção. Nos desenhos originais, o edifício era mais amplo e curto do que é agora. Após passar um tem em Nova York, no entanto, os arquitetos refinaram a composição do edifício para torná-lo mais fino e alto em resposta à paisagem arquitetônica da cidade. Na verdade, os degraus formados pelas caixas estruturais deslocados são uma reminiscência do perfil dos arranha-céus que tipificam o horizonte de Nova Iorque. A arquitetura da cidade é trazida para dentro do museu através das janelas panorâmicas no piso superior, que interrompem a experiência do visitante para costurar a cidade e o museu.
O edifício também reflete seu contexto construído imediato através do uso de materiais industriais, espelhando o que os arquitetos descrevem como a “aspereza” do Bowery. O exterior é revestido em duas camadas de malha de alumínio industrial, criando uma fachada texturizada cintilante. Apesar da malha de aço ser mais comumente usada na construção, o alumínio foi escolhido por ser um material mais brilhante e translúcido que remete a uma sensação de leveza. A malha suaviza as bordas do edifício, permitindo que ele borre seus limites e agregue à sua transparência.
Imagem: Laurian Ghinitoiu / Archdaily
Imagem: Laurian Ghinitoiu / Archdaily
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Quando o New Museum abriu suas portas no final de 2007, foi elogiado pela imprensa arquitetônica pelo minimalismo marcante do projeto. O novo edifício foi certamente bem sucedido em levantar o perfil do New Museum, que recebeu 100.000 visitantes nos dois primeiros meses de abertura. Os arquitetos não escaparam completamente das críticas, no entanto, e vários comentários abordavam a quantidade insignificante de luz natural fornecida pelas claraboias, que são, em todos os casos, dominadas pela iluminação de tira fluorescente.
A decisão de construir o museu no Bowery foi pouco convencional, por conta da história do bairro. Ele tinha sido um local infame pelo uso de drogas ao longo dos anos setenta e permanecia degradado trinta anos depois. Nos últimos anos, no entanto, o Bowery tem desfrutado de um período de regeneração para os quais o museu pode levar boa parte do crédito. A rua tem agora um hotel boutique, um supermercado orgânico, e um conjunto diversificado de galerias e espaços de arte. O New Museum, tanto em termos do edifício e da instituição que abriga, permanece como um símbolo do poder de transformação que a arte e a arquitetura podem ter sobre a sociedade.
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