Ao pé de uma ladeira íngreme de pedras irregulares, circundado por mangueiras imponentes, banhado pelas ondas do mar e premiado pelo mais belo pôr do sol da cidade de Salvador. E, neste belíssimo cartão postal chamado Solar do Unhão que se encontra o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), considerado o principal espaço para a arte do estado e um dos principais do Brasil.
Confira um pouco sobre esse museu e como Lina Bo Bardi influenciou sua história.
A história do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-Bahia) se confunde com a presença e as experiências da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (Roma 1914 — São Paulo 1992) na Bahia. Lina concebeu e foi a primeira diretora do MAM-Bahia de 1959 a 1963. Biografias: Instituto Bardi e Escritório de Arte).
Lina chega ao Brasil, por São Paulo, em 1946, com o seu marido Pietro Maria Bardi. Em 1951 se naturaliza brasileira. Em 1957 inicia o projeto para a nova sede do Museu de Arte de São Paulo (MASP, depois acrescido do nome Assis Chateaubriand), na Avenida Paulista, projeto que só vai terminar em 1968.
A partir de 1958, Lina é convidada pelo arquiteto modernista baiano, Diógenes Rebouças (Amargosa, 1914 – Salvador, 1994), para dar aulas na antiga Escola de Belas Artes da Bahia, então localizada na Rua do Tijolo, ou Rua 28 de Setembro, na área integrante do Centro Histórico de Salvador. Além de aulas em Salvador, Lina passa a assinar a coluna dominical ‘Olho Sobre a Bahia’ (sic) no jornal baiano ‘Diário de Notícias’ que pautava, escrevia, diagramava e ilustrava os textos.
Dentre vários outros artistas locais, ela se torna amiga e colaboradora do cenógrafo e diretor teatral pernambucano, Eros Martim Gonçalves Pereira (Recife, 1919 – Rio de Janeiro, 1973), que fundou e foi o primeiro diretor da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, entre 1956 e 1961. Em uma das andanças na cidade com Martim, procurando um local para ensaiar peças teatrais, Lina e ele chegam ao Solar do Unhão, onde fica encantada pelo complexo arquitetônico-histórico.
Desde 1943, o conjunto do Solar do Unhão já tinha sido tombado como Bem Cultural Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Em 1959, o então governador Juracy Magalhães convida e nomeia Lina para implantar um Museu de Arte Moderna na Bahia. Neste mesmo ano ela propõe ao governo baiano a restauração e a revitalização do Solar do Unhão onde instalaria um Museu de Arte Popular. Em janeiro de 1960 ela inaugura a primeira exposição do MAM em uma sede provisória, no foyer do Teatro Castro Alves que havia sofrido um incêndio em 1958.
Na restauração do Solar do Unhão Lina buscou utilizar todo o conhecimento que tinha adquirido na Itália sob uma perspectiva moderna da arquitetura, derrubando paredes internas, aproveitando os múltiplos usos históricos da construção iniciada a quatro séculos e “procurando não embalsamar o monumento, mas integrando-o ao máximo na vida moderna”.
Em novembro de 1963 ela entrega o Solar do Unhão à população com um Museu de Arte Popular inaugurando duas exposições: ‘Artistas do Nordeste’ e ‘Civilização do Nordeste’. Em 1964, depois do Golpe Militar, Lina é demitida pelo governo, e os dois museus passam a ser unificados como Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-Bahia) no complexo do Unhão.
Em 1998, o governo estadual cria na encosta da entrada do Solar do Unhão o Parque das Esculturas e o Pavilhão Rubem Valentim de autoria da arquiteta paulista Rosa Grena Kliass (São Roque, 1932) – também autora de parte da concepção do Parque Metropolitano do Abaeté – considerada uma das mais importantes profissionais do paisagismo brasileiro, moderno e contemporâneo. O Parque das Esculturas do MAM-Bahia funciona como uma galeria a céu aberto.O Solar do Unhão foi construído no séc. XVII, em sítio histórico, em terras pertencentes a Gabriel Soares e doadas por testamento aos Beneditinos no séc. XVI. No séc. XVII, 1690, residia o Desembargador Pedro de Unhão Castelo Branco. No início do séc. XVIII, o Solar foi vendido a José Pires de Carvalho e Albuquerque, que estabeleceu morgado (propriedade que não pode ser vendida, é herdada pelo primogênito). Por volta de 1740, surgem as primeiras notícias sobre a construção da Capela do Solar. No mesmo século, a casa recebeu feições mais requintadas, tendo sido colocados o chafariz e os painéis de azulejo portugueses no passadiço que ainda hoje dá acesso ao pavimento nobre do Casarão. A Capela é reedificada e consagrada à Nossa Senhora da Conceição. Após esse período áureo, ao final do mesmo século, a fazenda do Unhão passa a ser conhecida como Solar do Unhão. No início do séc. XIX, o Solar foi arrendado, iniciando a partir daí um processo crescente de degradação do conjunto, com a instalação sucessiva de fábricas, incluindo uma de rapé, que funcionou até 1926.
Já ao final da década de 40, produziu derivados de cacau e manufaturas diversas, sediou oficinas e foi transformado em trapiche, depósitos de combustíveis e mais tarde, durante a 2ª Guerra Mundial, em quartel para os fuzileiros navais. Em 1943, o Solar foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sendo depois, no início da década de 60, adquirido e restaurado pelo Governo do Estado da Bahia, com projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi, para instalar o Museu de Arte e Tradições Populares. A partir de 1963, passa a sediar o Museu de Arte Moderna da Bahia, que já vinha movimentando a cultura baiana desde a sua inauguração em 1960 no foyer do Teatro Castro Alves.
Imagem: MAM.BA
Imagem: MAM.BA
Imagem: MAM.BA
Última Reforma
Além de ser considerado o principal espaço para a arte contemporânea da Bahia, também uma referência nacional e internacional, o MAM sedia várias mostras temporárias simultâneas, exposições permanentes, eventos artísticos diversos e possui um programa permanente de ações educativas.
Dentre os projetos no MAM-Bahia com grande repercussão, a ‘Jam no MAM’ e outros temporários como o ‘Pinte no MAM’, além de dispor de um Café, atualmente sob a concessão do Circuito de Cinema Sala de arte.
Devido a localização geotopográfica do conjunto do Unhão, implantado sobre aterros no mar e no final de um grande declive, integrando a falha geológica de cerca de 70 metros de altura do nível do mar que divide as Cidades Alta e Baixa, em Salvador, a manutenção do complexo precisa ser constante. Somente a Galeria 1 e os arcos construídos na parte mais alta, sob a Avenida Contorno projetada pelo arquiteto modernista Diógenes Rebouças, estão assentados sobre rochas.
Hoje
A última reforma começou em 2014 sob iniciativa do governo estadual e projeto do discípulo de Lina, o arquiteto paulista André Vainer, buscando resgatar algumas ideias iniciais de Lina para o espaço.
As obras foram realizadas em várias etapas. Física-estrutural, climatização e ações técnico-funcionais. Foram restaurados a capela, o galpão do cinema do MAM, a passarela do Parque das Esculturas e, pela primeira vez, criada uma reserva técnica com padrões profissionais para o acervo do MAM composto atualmente (2021) por cerca de 1.300 obras de arte, modernas e contemporâneas.
Foi requalificado o casarão, as oficinas do MAM, a galeria 3, os arcos criados pelo arquiteto Diógenes Rebouças na construção da Avenida Contorno e o Parque das Esculturas. Foi implantada ainda subestação de energia, sanitários, vestiários, sala da diretoria e climatização, além de instalações de sistema de prevenção e combate a incêndios dentro das normas atuais.
Imagem: MAM.BA
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