A Barcelona que conhecemos hoje em dia é, em grande parte, decorrente do Plano Cerdá (1860), um dos primeiros e grandes marcos do que timidamente chamava-se “Urbanização”. Confira mais sobre o Plano Cerdá
No entanto, em meados do século XIX, a situação em Barcelona estava longe da imagem turística, cosmopolita e encantadora que possui hoje. Naquela época, a cidade experimentou um crescimento econômico acelerado graças à atividade portuária e à indústria têxtil, ao mesmo tempo em que superlotação, epidemias e a insalubridade estavam a colapsar.
A urgência de transformar a cidade tornou-se o plano urbano criado pelo Engenheiro e Urbanista (com aprofundamento em sistema viário) Ildefonso Cerdà (1815 — 1876). Sob uma ideologia do “urbanismo humanista”, Cerdà estabeleceu uma estrutura de quadrícula dez vezes a superfície que Barcelona tinha naquela época e criou um sistema de coleta de água.
Além disso, abriu ruas, exigiu zonas verdes dentro das quadras, definiu alturas máximas, assegurou equipamentos comunitários a cada certa distância e zonas industriais mais afastadas.
Imagem: Pinterest
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Embora o Plano Cerdà tenha sido, sem dúvida, bem-sucedido, foi fortemente resistido pelo Conselho Municipal de Barcelona, que em 1859 realizou uma concorrência para escolher outra proposta, dando o primeiro lugar a Antoni Rovira e Trías. No entanto, Cerdà teve o apoio do governo central e tudo foi resolvido no mesmo ano, quando o Ministério das Obras Públicas promulgou um Decreto Real que requeria a materialização do projeto do Engenheiro.
Cerdá escreve o primeiro Tratado sobre Urbanização onde faz uma análise urbana da cidade. Neste Tratado, discorre sobre temas como a capacidade das edificações, o funcionamento viário, a circulação e a clareza do traçado.
Para o concurso do Plano de Barcelona, realiza estudo topográfico da área considerada para a expansão, idealiza esquema de urbanização com vegetação, leva em consideração o clima da região, dando início a esse tipo de estudo nos projetos urbanísticos.
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Na sua forma de pensar o urbanismo, preocupa-se em como pensar a cidade e no que pensar primeiro destacando conceitos fundamentais como: homogeneidade, coerência espacial, circulação, convívio social (enfatizando a preocupação com quem vai habitar a cidade – diferente da reforma de Paris, onde a questão principal é a estética). Além desses aspectos, Cerdá realiza estudo de qualidade ambiental e adota traçado retilíneo.
A partir desses aspectos, fez uma relação dos edifícios com o número de usuários (exemplo: hospital para tantas pessoas que moram perto do edifício). Esse aspecto de seu plano pode ser observado no Plano Piloto de Brasília, projetado por Lucio Costa. Nele existe a figura da Unidade de Vizinhança que configura exatamente este aspecto do Plano de Cerdá.
Em relação à tipologia a ser adotada, Cerdá defende que deveria ter uma única fisionomia, com ocupação periférica do lote e o miolo sendo utilizado para jardins. Os edifícios deveriam ter sempre o mesmo gabarito de altura e chanfrados nas quinas.
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A proposta multiplica a cidade em quase seis vezes. Cerdá adota traçado quadriculado, cria no centro uma grande diagonal que corta todo o tecido da cidade com uma avenida que tem quase seis vezes o tamanho do antigo núcleo. Não se preocupa em criar um centro administrativo, pois para ele, o território tem que ser homogêneo e todos os locais devem possuir o mesmo valor.
Não concentra prédios públicos e administrativos, espalha por toda a cidade os edifícios destinados a essas funções, valorizando por igual os setores e bairros. “Congela” a cidade medieval e só prolonga a avenida ligando-a aos bairros novos projetados, descartando assim, qualquer tipo de demolição ou desapropriação do antigo núcleo, enfatizando a preservação do lugar.
Cria áreas de parques e permeia todo o plano por praças e parques. Cria uma grelha ortogonal definida em estruturas rígidas que se desenvolvem a partir de módulos quadrados (grelha 9×9 –com várias formas de ocupação), cria hierarquia de vias relacionando-as diretamente à tipologia habitacional, com limite de ocupação da quadrícula.
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A circulação representa um meio fundamental de facilitar o contato e a relação entre pessoas e o quarteirão, produz uma ruptura formal com a ocupação periférica das quadras. A ocupação da superfície é definida a partir da habitação, que deve ocupar no máximo 2/3 da área do quarteirão, o restante do terreno deve ser ocupado apenas por jardins. Define duas formas de ocupação periférica do lote: em forma de L ou de U.
As ruas eram planejadas seguindo os princípios da orientação solar, largura, perfis transversais, tipo de pavimentação, diferença de cotas entre outros. As paisagens, praças e quadras deveriam interagir entre si, além de serem elementos harmônicos na cidade: isso seria possível através da análise de cortes (relação altura x largura) e na relação da casa com a quadra.
Entre 1876 e 1886 ocorre o desenvolvimento da expansão da cidade. A especulação imobiliária faz pressão e a quadrícula definida por Cerdá passa a ser ocupada totalmente, fugindo do plano inicial e descartando as áreas verdes internas, destinadas aos jardins.
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