A academia de Ciências da Califórnia

Inaugurada em setembro de 2008, a Academy of Science muda qualquer conceito de velharia dada na ideia de um museu. Além de reunir numa única estrutura aquário, planetário, museu de história natural e floresta tropical indoor, também se destaca por ser uma edificação totalmente baseada em tecnologias e práticas sustentáveis. E é por tal investimento verde que a Academia de Ciências da Califórnia é considerada uma das edificações públicas mais eco sustentável do mundo.

A instituição foi inaugurada em 1853 e desde 1916 ocupa o Golden Gate Park. Por estar localizada em uma área sísmica, toda a construção deveria ser altamente resistente a terremotos. Em 1989, a zona foi vítima do terremoto de Loma Pietra, tragédia que matou 63 pessoas na Baía de São Francisco e deixou mais de 12 mil pessoas desabrigadas.

Nesta eventualidade, foi considerada inviável a restauração dos edifícios que compunham a academia, não só pelo fator econômico, mas principalmente pela necessidade de se pensar em uma obra mais resistente. Sendo assim, em 1995 o acervo da academia foi transferido para a região central de São Francisco, e o restante das edificações foi demolido para dar lugar ao novo projeto de Renzo Piano.

Para este novo projeto, Renzo Piano integrou áreas internas do museu aos ambientes externo utilizando vidro como principal recurso. As paredes de vidro proporcionam plena transparência ao museu, garantindo que os visitantes, de dentro da edificação, conseguissem ter uma visão clara de todo o ambiente externo: o parque. Para intensificar tal transparência, o vidro utilizado foi produzido com baixo teor de ferro, o que faz com que o material não tenha aquela tonalidade verde, e sim um efeito transparente.

Com tanta transparência, a claridade é garantida no interior da construção: 90% dos escritórios do prédio aproveitam a iluminação natural em vez da elétrica. Além disso, como mais um fator em prol da sustentabilidade, a vedação em vidro recebeu 60 mil células fotovoltaicas, capazes de gerar 15% da energia elétrica consumida no edifício, além da água quente.

Além da integração dos ambientes, o arquiteto colocou a sustentabilidade como regra geral de seu projeto, na qual foi exigida pelo departamento ambiental de São Francisco. Piano fez da exigência a sua inspiração: não só a construção seria sustentável como o próprio conceito do museu embasar-se-ia na sustentabilidade. A ideia era que os conceitos eco sustentáveis fossem parte da exposição permanente do museu. “Este museu tem sempre trabalhado em três níveis – exibindo a coleção, educando o público e pesquisando a ciência; o espírito deste novo edifício é anunciar e aplicar esta complexidade da função”, afirma o arquiteto no site oficial da California Academy of Science.

Para incentivar a prática da sustentabilidade, Piano investiu nos conceitos sustentáveis também ao redor do museu: implantou bicicletários e postos de reabastecimento para veículos elétricos no estacionamento do complexo.

Tendo em vista tais conceitos, nota-se que os ideais sustentáveis estão presentes em cada metro quadrado da construção, mas é na cobertura que a sustentabilidade é consagrada. Com 10 mil metros quadrados projetados no formato ondulado, a cobertura ganhou o título de telhado vivo. A denominação se dá pelo fato de a estrutura ser composta por 1.200 toneladas de solo e plantas vivas nativas, situadas 12 metros acima do nível do terreno.

O “telhado vivo” tem como função controlar a temperatura interna do edifício. Para tal, apresenta comportas e cortinas que, controladas por computador, se abrem e fecham para manter a temperatura adequada no ambiente interno. O sistema foi tá bem sucedido que dispensou a instalação de ar condicionado na maioria das zonas do complexo.

A cobertura, além de servir de isolante térmico, tem a capacidade de absorver 98% da água da chuva que cai sobre ela, sendo metade deste volume reutilizado em outras partes do museu. Outra função do “telhado vivo” é permitir a entrada de luz natural no edifício. Assim como as paredes de vidro que compõem o fechamento do museu, as claraboias instaladas na cobertura também maximizam a incidência de iluminação natural para o interior da construção. Como providência anti-terremoto, as peças de vidro que compõem a claraboia foram instaladas com uma folga de 15 centímetros, podendo movimentar-se dentro desse perímetro para qualquer direção, a fim de não se quebrarem caso haja movimento sísmico.

Além das claraboias, que controlam a ventilação no interior do edifício, outras práticas foram implantadas com o fim de manter uma temperatura ideal no museu. Para fins de aquecimento, foi instalado um sistema de aquecimento radiante no piso do museu. Tubos embutidos no piso transportam água quente, aquecendo o chão. A prática reduz em 10% a necessidade de energia anual do edifício.

Outra forma de controle de temperatura é por meio do isolamento térmico. Dispensando os tradicionais sistemas de fibra ou espuma, o museu investiu numa técnica nova: jeans. O algodão grosso feito de jeans reciclado prende mais calor e absorve o som melhor que a fibra de vidro. Além disso, também funciona como retardador de fogo e evita o mofo.

Com tantas medidas sustentáveis, a Academia de Ciências da Califórnia é considerada a construção mais eco sustentável do mundo. As principais atrações do prédio são os enormes tanques aquáticos, que irão abrigar os tubarões do museu e outras criaturas do fundo do mar. Um elevador irá permitir que os visitantes passeiem através e por baixo dos tanques.

Além de abrigar os aquários, também estão inclusos no complexo um planetário, um museu com quatro andares de história natural e da floresta, um cinema 3D, um auditório, um centro naturalista, dois restaurantes, um jardim adjacente e aviário, um terraço e uma loja da Academia.

O prédio abriga ainda os laboratórios de ciências da Academia e escritórios administrativos, incluindo uma extensa biblioteca e arquivo científico com de mais de 26 milhões de espécimes. Tudo isso construído com base nas ideias sustentáveis.

Por toda essa infraestrutura sustentável a Academia é hoje considerada o maior edifício público com maior certificação LEED no mundo: Platinum. Um edifício com certificação LEED possui menos custos de operação e manutenção e, em comparação com um edifício convencional, tem um impacto significativo na redução das emissões de carbono.

A Academia de Ciências da Califórnia levou quase uma década para ser construída, sendo inaugurada em setembro de 2008. Custou 500 milhões de dólares e incluiu medidas sustentáveis em toda sua construção e infraestrutura:

  • 90% de todos os materiais de demolição foram recicladas;
  • 32 mil toneladas de areia de escavação fundação aplicada a projetos de restauração de dunas em São Francisco;
  • 50% do aço e do concreto utilizado são reciclados de outras construções;
  • 50% da madeira provem de reflorestamento;
  • 68% de isolamento vem de jeans reciclados;
  • 90% de espaço de escritório possui luz e ventilação naturais;
  • o consumo de energia é 30% menor do que o recomendado no código federal;
  • 60 mil células fotovoltaicas capazes de gerar 213.000 quilowatts-hora.

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