O arquiteto idealizador do conjunto das obras da Rede Sarah foi João Filgueiras Lima, o Lelé, adquiriu vasta experiência no desenvolvimento da capital do país, Brasília, juntamente com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Após anos de trabalho com projetos e construções foi convidado pelo médico Aloysio Campos Paz para atuar com o plano da nova sede das Pioneiras Sociais e, logo em seguida, desenvolveu toda a rede dos hospitais utilizando princípios da industrialização, interação multiprofissional, baixa manutenção, custos reduzidos e intercâmbio tecnológico. Leia mais sobre o hospital Sarah Kubitscheck de Salvador.
É importante destacar que todas as Hospitais Sarah desenvolvidas por Lelé adotam os mesmos princípios básicos inerentes à sua concepção arquitetônica. Ou seja, a programação arquitetônica foi planejada de acordo com a lógica da racionalidade construtiva, da modulação estrutural, da coordenação modular, da funcionalidade, da setorização e dos fluxos claros. Com relação à humanização dos espaços, percebe-se a adoção dos princípios da sustentabilidade, a aplicação do conforto ambiental à arquitetura – acústico, térmico, ergonômico, higrotérmico e visual, o paisagismo e a escala humana.
Imagem: Nelson Kon
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A sede baiana do Hospital Sarah, inaugurada em 1994, possui um partido arquitetônico horizontalizado, sendo implantado em amplo terreno arborizado. Em sua solução foram criadas espacialidades generosas e funcionais, diretamente ligadas às terapias aplicadas aos usuários que necessitam de apoio para a recuperação do aparelho locomotor. Esta unidade se destaca, diante dos outros exemplares da rede nacional, por abrigar, além das áreas assistenciais, o Centro de Tecnologia da Rede Sarah – CTRS, composto por oficinas de metalurgia, argamassa armada, marcenaria e plásticos.
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Criado com o objetivo de atender à exigência do contrato em relação à ampliação da rede, de modo a estender suas ações de cuidado por todo território brasileiro, o CTRS era responsável pela manutenção da estrutura física de todos os hospitais da Rede Sarah. Não obstante a sua importância, o CTRS foi desativado nos últimos anos e, atualmente, a Rede Sarah depende de serviços terceirizados para suprir suas demandas de infraestrutura, instalações e equipamentos.
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A notória capacidade técnica e a engenhosidade de Lelé, harmoniosamente associadas ao seu potencial criativo, trouxeram para o complexo hospitalar um resultado projetual de excelência, desde o ponto de vista macro, até os seus detalhes. Uma das soluções que se destaca é a utilização de um plano inclinado com funcionamento à base de contrapeso, inserido no declive do terreno com o objetivo de vencer o longo desnível existente entre as áreas do CTRS e do hospital. Cabe ressaltar a sensibilidade do arquiteto ao implantar esta circulação vertical em meio a uma massa de vegetação, gerando uma espécie de “túnel verde” por onde o pedestre transita dentro dos bondes. Desse modo, além de facilitar a circulação das pessoas ao longo da extensa área do terreno, o plano inclinado possibilita o contato direto de cada usuário com a natureza, através de um percurso agradável e humanizado.
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Além disso, vale ressaltar a existência, neste hospital, de uma das marcantes propostas de Lelé para a Rede Sarah: as galerias de ventilação. Essas estruturas subterrâneas, que possuem 5 quilômetros de extensão, consistem em uma espécie de túnel de captação de ar com um funcionamento bastante preciso. Ao entrar nas galerias, o ar passa por diversas cortinas de água, auxiliando a reduzir, em até 2 graus celsius, a temperatura no interior do hospital. Sua estrutura é como uma grande contenção que recebe manutenção frequente, permitindo que o sistema renove e higienize o ar constantemente, contribuindo para a redução dos índices de infecção hospitalar.
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O ar frio, transportado nessas galerias, chega aos ambientes através de dutos verticais com grelhas metálicas. Esse ar empurra o ar quente do ambiente, que é expelido através dos sheds localizados na cobertura. Cabe ainda enfatizar que as galerias também funcionam como passagem para os cabeamentos e instalações de grandes equipamentos do hospital, chegando em cada ambiente através do piso.
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Outro ponto característico da genialidade de Lelé, que pode ser observado no Hospital Sarah Salvador, é o uso dos sheds na cobertura. Seguindo a sua meticulosa preocupação com a qualidade do ar no interior da unidade de saúde, o arquiteto cria sheds com abertura em posição contrária aos ventos predominantes. Dessa maneira, é possível expulsar o ar quente da área interna do hospital através dessas grandes estruturas que funcionam como uma espécie de exaustor e auxiliam na renovação do ar.
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Também é preciso enfatizar que os valores da racionalidade e economia construtivas que permeiam os projetos de Lelé podem ser claramente percebidos na sede hospitalar da capital baiana. A modulação pautada na malha de 625×625 mm está presente na estrutura, nos pisos, esquadrias e painéis de vedação, todos pré-moldados, contribuindo para a flexibilidade espacial do complexo. Para o arquiteto, nenhuma decisão projetual poderia ser gratuita, portanto, todos os elementos (desde a estrutura, até os forros, luminárias e mobiliário) deveriam atender a um propósito. É comum que cada componente tenha mais de uma função: através das vigas metálicas, passam cabeamentos; através dos pilares, passam tubos de PVC que recebem as águas pluviais provenientes das calhas.
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Cabe enfatizar mais uma atitude de Lelé que se aproxima a inúmeras obras da Arquitetura Moderna da Saúde: além de buscar uma relação direta entre o edifício e a natureza, ele também incorpora a arte aos ambientes, entendendo que ela constitui o conceito de qualidade espacial que deve permear as instituições de saúde com assistência centrada no bem-estar dos usuários. Observa-se no Hospital Sarah Salvador a presença de painéis pré-moldados com elementos artísticos geométricos e coloridos, que são utilizados para delimitar diversas áreas, criando um cenário agradável nos percursos. Além disso, há neste hospital uma obra emblemática do artista moderno Athos Bulcão (que trabalhou exaustivamente ao lado de Lelé), protagonizando a divisão entre as circulações e recepções com sua cor, vibração e movimento. Há ainda, em algumas salas e circulações, a exposição de obras artísticas desenvolvidas pelos pacientes nas oficinas de terapia ocupacional, contribuindo como um recurso que potencializa o sentimento de pertencimento e de identidade do usuário com aquele espaço construído.
Imagem: Nelson Kon
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