A construção histórica que passou por transformações que teve participações históricas de Ramos de Azevedo a Paulo Mendes da Rocha. Confira esse processo de transformação.
A Pinacoteca
Construído na última década do século dezenove para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios nunca foi totalmente concluído. Já em novembro de 1905 foram executadas as primeiras obras de adaptação, ainda sob o plano e direção do arquiteto Ramos de Azevedo, para receber a primeira coleção de quadros pertencentes ao Estado e que passaram a constituir a Pinacoteca.
De lá para cá, o edifício passou a receber diversos tipos de ocupação e toda a sorte de absurdas agressões e abandono, desde a inclusão de piso intermediário numa ala inteira, para abrigar uma escola com milhares de alunos, até as transformações, inevitáveis, dos arredores, desengonçando sua implantação, quando deveriam manter-se cuidadosas com a sua arquitetura peculiar. O prédio em si também sofreu estragos, consequência das águas, do estado dos telhados, goteiras e entupimentos das prumadas de águas pluviais, principalmente.
A América das navegações, encontrada como comprovação da forma da Terra, surge, para o homem, como a inauguração da consciência de sua presença no universo e da esperança na invenção e na transformação promovidas pela modernidade. No trabalho do edifício da Pinacoteca, duas operações marcam, de maneira fundamental, sua transformação. Em um primeiro momento, a rotação do eixo principal de visitação, lograda graças à manobra sutil de cruzar, com pontes, os espaços vazios dos pátios internos, que altera a implantação do edifício e sua relação com a cidade. Esta manobra, no interior do edifício, exibe a virtude da arquitetura em sua extensão ao espaço urbano, seu poder de narração – linguagem peculiar de uma forma de conhecimento histórico do gênero humano. Experiência.
O objetivo primordial da obra foi a adequação do edifício às necessidades técnicas e funcionais para receber definitivamente a Pinacoteca do Estado, cujo perfil funcional estava perfeitamente delineado pela sua localização urbanística, pelos espaços internos, pelo público potencial e pela ideia de ampliação do acervo, recepção de exposições temporárias e dotação do prédio de toda a infraestrutura necessária.
O projeto procurou resolver os problemas detectados no diagnóstico do prédio: a umidade que paulatinamente degradava as robustas paredes em alvenaria de tijolos de barro; a complicada distribuição das áreas de exposições espalhadas por inúmeras salas e estruturada a partir dos vazios internos conformados por uma rotunda central em forma octogonal e dois pátios laterais e, ainda, o plano de acesso, comprometido pelas transformações urbanas ocorridas nas áreas entorno do edifício.
Imagem: Nelson Kon / Archdaily
Imagem: Nelson Kon / Archdaily
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Os vazios internos foram cobertos por claraboias planas, confeccionadas em perfis de aço e vidros laminados. Evitou-se a entrada de chuva e garantiu-se, através da ventilação, a reprodução das condições originais de respiração do conjunto dos salões internos. Ao mesmo tempo, possibilitou uma nova utilização desses espaços: no nível do chão, salões de pé direito triplo, que possibilitam uma nova articulação entre todas as funções, liberta da rígida planta original; nos pisos superiores foram instaladas passarelas metálicas vencendo os vazios dos pátios laterais; no vazio central, foi construído o auditório, cuja cobertura, no primeiro pavimento, transformou-se num saguão monumental que articula, em conjunto com as passarelas, praticamente sem barreiras, através dos eixos longitudinal e transversal do edifício, todos os seus espaços. Em um pátio lateral foi instalado um grande elevador para o público e montagens.
Claraboia
As esquadrias das janelas das fachadas internas puderam ser retiradas e mantidos seus vãos abertos, gerando uma grande transparência e destacando as grossas paredes autoportantes de alvenaria de tijolos.
Criou-se, dessa forma, uma nova espacialidade em todo o recinto da Pinacoteca: na sucessão dos espaços, no fluxo dos visitantes, na luminosidade, produzida ou reproduzida com os recursos arquitetônicos projetados
Com a viabilização da nova circulação pelo eixo longitudinal do edifício, interligando as duas varandas laterais, e devido ao fato de estar o prédio numa esquina, a entrada do museu foi transferida para a frente da Praça da Luz, na face sul, modificando-se a sua implantação com relação à cidade. Ressalta-se a utilidade importante do uso das varandas como espaços de acolhimento, uma área vestibular ainda externa, mas abrigada e equipada com serviços ao público. Também foi corrigido, dessa forma, o inconveniente estrangulamento entre o prédio e a Avenida Tiradentes. O acesso, agora possível a partir de um amplo recuo com relação a Praça da Luz, espaço externo largo e contínuo, estabelece um diálogo interessante com o belo edifício da Estação da Luz e a animação proporcionada pelo metrô e pelo Parque ao lado.
Imagem: Nelson Kon / Archdaily
Imagem: Nelson Kon / Archdaily
Ao realizar um novo eixo de circulação e modificar o acesso, o projeto criou um terraço / belvedere no local da antiga entrada, área de estar externa e aberta que possibilita a vista da paisagem urbana próxima.
A construção original foi essencialmente mantida como encontrada, conservadas, inclusive, as marcas dos antigos andaimes e as das ocupações e intervenções anteriores. Todas as intervenções propostas pelo projeto foram justapostas e tornadas evidentes.
As fachadas externas foram preservadas como se mantiveram nestes 100 anos de existência do edifício. A sua alvenaria de tijolos aparentes é uma imagem forte e marcada na cidade. A solução foi limpar e neutralizar agentes agressivos acumulados pela poluição, manter os incontáveis meandros dos ornamentos esculpidos nos tijolos, muito desgastados, e proteger quimicamente de forma adequada, conservando a cor e textura.
Quanto aos materiais utilizados, o aço foi o principal material construtivo adotado. Está presente nas passarelas, nos elevadores, nos parapeitos, nas novas escadas, nas estruturas dos novos pisos e coberturas, nas esquadrias e nos forros. Seu uso foi devido a sua melhor adequação às condições locais de execução, sua leveza (material e desenho) e por estabelecer um diálogo interessante e desejável com a construção original, entre o novo e o antigo.
Passarela
Complementando a adequação do edifício às condições técnicas e de infraestrutura necessárias no desempenho adequado da função museológica, foram executadas algumas obras prioritárias: o reforço estrutural dos pisos originais de madeira através de vigamento; complementar com perfis de aço; sistema de climatização nas áreas das Exposições Temporárias, Depósito do Acervo, Auditório, Laboratório de Restauro; elevadores para montagens e público; sistema de controle e segurança; sinalização; rede elétrica com adequada capacidade de carga; ampliações das áreas do Depósito do Acervo, Laboratório de Restauro e Biblioteca; criação do Café e Restaurante.
Imagem: Nelson Kon / Archdaily
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